Vários autores procuram demonstrar que
os conceitos de cultura e ideologia não podem ser utilizados separadamente. O
pensador italiano Antônio Gramsci analisou a questão com base no conceito de hegemonia
e no que ele chama de aparelhos de “persuasão”.
Os aparelhos de persuasão são práticas
intelectuais e organizações no interior do Estado ou fora dele (livros,
jornais, escolas, música, teatro, televisão, etc.) utilizadas para disseminar o
projeto da classe dominante. Cada relação de hegemonia é sempre pedagógica,
pois envolve uma prática de convencimento, de ensino e de aprendizagem.
Para Gramsci, uma classe se torna
hegemônica quando, além do poder “coercitivo” (ordem) e policial, utiliza a persuasão, o consenso,
que é desenvolvido por um sistema de ideias elaborado por intelectuais a
serviço do poder, para convencer a maioria das pessoas. Por esse processo
cria-se uma “cultura dominante efetiva”, cujo objetivo é demonstrar que a visão
de mundo de quem domina é a única possível.
De acordo com Gramsci, é possível haver
um processo de contra hegemonia, desenvolvido por intelectuais vinculados à
classe trabalhadora. Contrapondo-se aos ideais burgueses transmitidos pela
escola e pelos meios de comunicação, esses intelectuais defendem outra forma de
“pensar, agir e sentir” na sociedade em que vivem.
O sociólogo francês Pierre Bourdieu, formulou
o conceito de violência simbólica para designar formas culturais que impõem
como normal um conjunto de regras não escritas nem ditas. A dominação masculina
é um exemplo: as mulheres, consideradas em nossa sociedade “naturalmente” mais
fracas e sensíveis, devem se submeter aos homens. A sociedade aceita essa ideia
como se fosse verdadeira.
Para Bourdieu, é pela cultura que os
dominantes garantem o controle ideológico, mantendo o distanciamento entre as
classes sociais. Assim, práticas culturais distinguem quem é de uma classe ou
de outra. Os “cultos” têm conhecimentos científicos, artísticos e literários
que os opõem aos “incultos”. Isso é resultado de uma imposição cultural
(violência simbólica) que define o que é ter “cultura”. A violência simbólica
ocorre de modo claro no processo educacional. Na escola, deve-se obedecer a um
conjunto de regras e aprender saberes predeterminado. Essas regras e saberes
não são questionados e normalmente não se pergunta quem os definiu.
Theodor
Adorno
e Max
Horkheimer procuraram analisar a relação entre cultura e ideologia com base
no conceito de indústria cultural, cujo objetivo é a produção em massa de bens
culturais para ser consumidos como qualquer mercadoria. As empresas envolvidas
na indústria cultural têm a lucratividade e a adesão incondicional ao sistema dominante
como fundamentos, e colocam a felicidade nas mãos dos consumidores mediante a
compra de alguma mercadoria cultural.
Ao consumir produtos culturais, nos
sentimos integrados a uma sociedade imaginária, sem conflitos e sem
desigualdades. A indústria cultural promove uma fuga do cotidiano: o indivíduo
se aliena para poder continuar aceitando a exploração do sistema capitalista.
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