O filósofo grego Platão, acreditava que o
mundo que conhecemos não é o verdadeiro. Para ele, a realidade não estava no
que podemos ver, tocar, ouvir, perceber. A verdade, para Platão, é o que não se
modifica nunca, o que é permanente, eterno. Mas como encontrar essa verdade?
Na filosofia de Platão existem dois mundos: o
primeiro é aquele que podemos perceber ao nosso redor, com os cinco sentidos.
O outro é o mundo das ideias, onde tudo é perfeito e
imutável. Não podemos tocá-lo, ele não é concreto. Só o pensamento pode nos
levar até lá. Para entender melhor isso, a gente precisa lembrar uma história
que Platão criou: o Mito da Caverna.
Nossa vida, para Platão, é como a dos
prisioneiros do mito, acorrentados no fundo da caverna. Vemos as coisas que
conhecemos como se fossem reais, mas não passam de sombras, ilusão. A verdade
está fora da caverna, no mundo das ideias, na luz. Ou seja: é preciso
desconfiar do que nossos olhos e ouvidos dizem. Devemos nos guiar pelo
pensamento e pela razão. Foi em torno dessa ideia que nasceu a Filosofia, no
fim do século V antes de Cristo.
O filósofo grego foi ainda mais longe: Platão
afirmava que o corpo era um túmulo que aprisiona a alma. Um obstáculo ao
pensamento. Platão acredita que para atingir a verdade e o bem, você deve se
libertar da sedução dos sentidos. São os apelos do corpo, que nos levam a
paixões descontroladas e nos afastam da verdade. Platão dizia que ele deve ser
sempre submetido às avaliações do pensamento.
Mas qual a relação entre o mundo dos sentidos
e o das ideias? Tudo o que a gente vê e percebe ao redor são cópias malfeitas
das ideias, que são perfeitas e eternas. É como se a natureza e as pessoas
fossem uma cópia de modelos que só existem no mundo das ideias. O que Platão quer
com isso é distinguir o verdadeiro do falso, o semelhante do diferente, a
essência da aparência.
Você sabia que Platão também desconfiava da
arte? O motivo: ela seduz nossos sentidos e nos desvia da busca pela verdade. O
artista se inspira em coisas que existem no mundo, ou seja: em cópias, por
exemplo, como em uma mulher.
Uma mulher é a cópia de um modelo perfeito de
outra que só existe no mundo das ideias. A arte, portanto, seria cópia da cópia
- duplamente enganadora.
As ilusões da arte atrapalham, a filosofia,
não! Só ela é capaz de conduzir o homem ao bem e a verdade!
O que a herança platônica nos deixou foi uma
forma de avaliar o mundo que opõe o bem e o mal a partir de modelos fixos, de
ideias. Vivemos guiados por ideais - o ideal de corpo, de filho, de marido -
mas será que é possível atingi-los? Será que viver nas sombras é pior do que
viver na luz, como Platão imaginou? Será que a cópia é pior do que o original?
Existe mesmo um original?
Nesse mundo de mudanças, o que existe são
diferenças. E em nossas diferenças, somos todos originais.
Por: Viviane Mosé (Filósofa)
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